sábado, 31 de janeiro de 2015

Epifania Descritiva

Caminhar sozinho à noite após a chuva.
Ar puro e fresco, calor amenizado. É no escuro que a cabeça começa a funcionar.
O plano é só ir. E ir só.

Suspeitar de algumas gotas que podem cair e naturalmente senti-las no rosto.
Há o toque frio da água sob a pele despertando todo o corpo. A cada pontada, um arrepio diferente que ofega a caminhada. Um suspiro profundo a fim de recompor e acalmar aquele impulso que sobe até o pescoço.

Aos poucos vai surgindo o sorriso mais sincero.

O prazer visual é empolgante. A luz da rua permite que a garoa suba ao palco e dance.
O som é do chacoalhar dos galhos, do vento que sussurra e das nuvens que deságuam.

Os passos são despercebidos e organizados. A única preocupação é desocupar o que não é pra ser lembrado. Deixar que o olhar se perca em tanto grão não reparado.

Ser seguido pelo medo e dar abrigo sob a paz.
Paz que é tua e é teu cativo, teu libido em porto e cais.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Um sopro que não venta

Sentimento é algo que se deve, de fato, sentir.
Infelizmente há quem se atreve a, forçado, tentar.
Tem muita gente que se engana, então, afim
De tornar lento o que se ama e não amar.

Pena de quem inventa o que é profundo, mas não sente
O coração que esquenta e bate mudo um frio no ventre,
Liberta o que desperta lá de dentro, atrasa e lenta,
Aperta o que te cerca já há um tempo e experimenta:

Um vento que não sopra.

Um sopro que não venta.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O meu olhar e o tempo cinza

Manhã de tempo cru como fotografia de filme antigo. Até agora, pelo menos, nenhuma trilha sonora.

Gosto da chuva, ainda mais quando ela passa um tempo sem fazer barulho.
No espaço entre o incensário e a janela, eu vejo o armário e a única cor que surge: madeira com verniz claro.

Mas ao que parece, não é só o céu que se apresenta sonolento. Até o barulho dos carros diminui intensidade; um passarinho ou outro se encoraja de voar alguns metros e soltar um canto solitário e tímido como um bocejo; Twist and Shout parece Yesterday... e por aí vai.

Tempo assim combina com solidão ou, no máximo, um par. Muita gente gera preguiça: vontade de não fazer, vontade de não escutar, vontade de não falar, vontade de não ter vontade.
Só que mesmo sabendo disso, mantenho a luz do quarto apagada para combinar com o clima, se não fica sem sentido. Seria uma tentativa em vão de mudar a vibração, não só do ambiente, mas da estação.

As nuvens nos tiram a sensação de infinito. A gente passa a exigir o dobro da coragem pra ultrapassar esse ilusório limite. O que antes era ‘talvez’, agora é ‘deixa pra lá’. Pra lá onde?

E não é só a gente que sofre. Ainda são onze horas, se fosse à noite a vez seria das estrelas: “Poxa, com aquele céu não dá nem pra ver os homenzinhos.”

Tempo fechado facilita a nostalgia, entristece a alegria e alegra o que é lembrança – mas volta a ser tristeza após o primeiro sorriso.


Apesar de excêntrica, essa sensação é tão gostosa. Não é comum?

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O passado é onipresente

Dias e semanas, meses e anos:
Há quem diga que é pouco tempo.
No instante em que há uma pausa para reflexão, passou-se mais um pouco.
Momento louco é quando passo a pensar no quanto o pensamento desperdiça.

Vento voa e é sempre o mesmo.
Ora, ágil; ora, lento.
Ele é e passa a ser o que não era ao mesmo tempo.

Então se algo é o que já foi, o que era permanece.
Mesmo que mude e deixe de ser, a noite se amanhece.

O improviso antecede por impulso o que age o raciocínio, mas sempre baseado no já acontecido.
O que era pra ter sido encaixotado volta agora ao lado de um pensamento bem mal adormecido.

sábado, 12 de abril de 2014

Sobre a liberdade de escrever

De início,

Acho interessante esse lance de compartilhar pensamentos avulsos com as pessoas. Talvez eles não nos sirvam imediatamente, mas ao comentar sobre o que se pensa com outra pessoa, algo poderá ser aproveitado.
Eu mesmo tenho muitas ideias a partir de coisas que escuto ou leio. Isso me serve de base para todo raciocínio que viria a seguir.
Creio também que, por pensarmos em momentos diferentes, acabamos pensando de maneiras também distintas. Sendo assim, uma hora a gente pensa em prosa, outrora em poesia. 
A partir de tudo isso, comecei a refletir sobre o paradigma presente na literatura. Ou se tem um livro de romance ou um livro de versos ou enciclopédia, enfim... isso acaba tirando a minha atenção com as obras literárias. Afinal, para mim, é muito difícil estar sempre com o pensamento num romance para conseguir ler a qualquer momento. Até eu achar um livro nacional dos anos oitenta num sebo e me apaixonar por ele. Continha diversas formas de contar a história, através de diversos tipos de pensamentos que se distanciavam a cada capítulo. Esse lance fazia com que se destacasse sempre uma novidade na leitura, mas não só pela história, e sim pelo modo de contá-la.
E o legal de blogs é isso. Eles nos dão liberdade para escrever a qualquer momento, sobre o que nos colocamos a dissertar e - o melhor - da maneira como pensamos.

Que o próximo pensamento seja diferente!