Manhã de tempo cru como fotografia de filme antigo. Até agora, pelo menos, nenhuma trilha sonora.
Gosto da chuva, ainda mais quando ela passa um tempo sem
fazer barulho.
No espaço entre o incensário e a janela, eu vejo o armário e
a única cor que surge: madeira com verniz claro.
Mas ao que parece, não é só o céu que se apresenta
sonolento. Até o barulho dos carros diminui intensidade; um passarinho ou outro
se encoraja de voar alguns metros e soltar um canto solitário e tímido como um
bocejo; Twist and Shout parece Yesterday... e por aí vai.
Tempo assim combina com solidão ou, no máximo, um par. Muita
gente gera preguiça: vontade de não fazer, vontade de não escutar, vontade de não
falar, vontade de não ter vontade.
Só que mesmo sabendo disso, mantenho a luz do quarto apagada
para combinar com o clima, se não fica sem sentido. Seria uma tentativa em vão
de mudar a vibração, não só do ambiente, mas da estação.
As nuvens nos tiram a sensação de infinito. A gente passa a
exigir o dobro da coragem pra ultrapassar esse ilusório limite. O que antes era
‘talvez’, agora é ‘deixa pra lá’. Pra lá onde?
E não é só a gente que sofre. Ainda são onze horas, se fosse
à noite a vez seria das estrelas: “Poxa, com aquele céu não dá nem pra ver os
homenzinhos.”
Tempo fechado facilita a nostalgia, entristece a alegria e
alegra o que é lembrança – mas volta a ser tristeza após o primeiro sorriso.
Apesar de excêntrica, essa sensação é tão gostosa. Não é
comum?
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